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Jacintinho nem se nasce, nem se morre

Posted by Railton Da Silva in
18 de fevereiro de 2010 |
| RAILTON TEIXEIRA*
Moro neste bairro há quase 23 anos, e muitas coisas já vivi e presenciei. Um bairro, que eu costumo dizer o mais populoso e habitado da Grande Maceió, onde tem um alto índice assustador de violência, homicídio, comercialização de drogas (que é o tráfico), analfabetismo e prostituição de adolescentes e adultos.

Não se sabe exatamente, há quantos anos o bairro foi habitado, há quem diga que 100 anos, mas ao certo, o que se sabe é que o Senhor Jacinto Athayde, foi o primeiro proprietário das terras deste bairro, e hoje essa extensão de terra recebe carinhosamente e no diminutivo o seu nome, Jacintinho.

Um povo receptivo e caloroso, forte e fervoroso na fé. A primeira capela neste bairro foi a de Santo Antônio, hoje Paróquia de Imaculada Conceição, que é administrada atualmente pelos padres da Missão, Adriano e Rogério. Dela veio outras comunidades e paróquias e uma miscigenação junto com outras denominações cristãs e não cristãs.

Mas é lamentável que neste querido bairro com aproximadamente 200 mil habitantes não exista uma maternidade, sendo necessário que as gestantes se desloquem para outros bairros, e assim os futuros habitantes não são “jacintinhenses” e sim oriundos de outras localidades. Onde em muitos dos casos, as gestantes são impedidas de ter seus bebês, chegando a dar a luz nos táxis, nas ambulâncias, mas nunca no Jacintinho.

O que muitos, ou melhor, quase ninguém, nem eu mesmo sabia, é que o velho “Jaça”, apelido carinhoso, dispunha de uma maternidade chamada de Nossa Senhora do Bom Parto, dados esses que eu pude comprovar através de algumas certidões de nascimento de alguns moradores que nasceram lá e que há algumas décadas atrás foi fechada, e no local da antiga, falida maternidade, hoje há residências.

Se para nascer é essa burocracia toda, para morrer é pior ainda. Apesar das mortes, como nos diz o linguajar popular, “morridas”, que são as de causas naturais e doenças, as mortes “matadas”, que são as mortes através de assassinatos, chacinas, o bairro não dispõe de cemitério, impedindo assim que os falecidos, que aqui residiram, sejam enterrados neste bairro que é tão querido e amado por seus moradores.

Diferentemente da maternidade, o Jacintinho nunca teve um cemitério sequer, sabemos das super “lotações”, dos cemitérios, São José, Nossa Senhora da Piedade (os mais populares, onde a maioria da população recorre para sepultar seus entes queridos). Com certeza daqui a alguns anos será necessário outras localidades para enterrar os “mortos” porque deixar em cima da terra, o indivíduo, não dá, seria uma falta de respeito para com aquele que contribuiu aqui em nosso meio.

O Jacintinho, uma localidade tão grande, com alguns lugares que ainda não estão ocupados poderia sim ter um cemitério, mas o que acontece, ou melhor, o que ouvimos são as desculpas de muitos, que quadrienalmente vão ao bairro e depois se esquecem daqueles que aqui habitam.

Uma maternidade e um cemitério, nesta localidade seriam de grande utilidade, nós moradores ficaríamos felizes que os nossos filhos nascessem aqui e que pudéssemos ser enterrados nesta grande localidade.

(*) É estudante de Jornalismo e poeta popular de Alagoas.


Fonte: Jornal Gazeta de Alagoas
http://gazetaweb.globo.com/v2/gazetadealagoas/texto_completo.php?cod=160558&ass=37&data=2010-02-18

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